Sete em cada dez trabalhadores tinham renda de até dois salários mínimos no 3º trimestre deste ano. O levantamento é da LCA Consultores, com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
De acordo com o estudo, do total de 97,575 milhões de ocupados no país, 67,19% recebiam até dois salários mínimos (R$ 2.424) por mês, totalizando 65,565 milhões de trabalhadores.
Veja a divisão dos trabalhadores por renda:
A partir de junho de 2020, a parcela de trabalhadores que ganhava até um salário mínimo passou a ser a maior entre os três grupos, com exceção do mês de dezembro de 2020.
Já o que ganhavam acima de dois salários mínimos passaram a ter a menor proporção de trabalhadores entre as faixas de renda, com exceção do mês de setembro deste ano.
A piora na renda ocorre porque, em tempos de crise, para entrar ou retornar ao mercado de trabalho, os trabalhadores aceitaram empregos com menor remuneração, destaca Bruno Imaizumi, economista da LCA Consultores responsável pelo levantamento.
“No geral, o trabalho ficou mais barato durante a pandemia. O mercado de trabalho brasileiro ainda ocioso e frágil contribui para baixos salários, porque há excesso de oferta de mão-de-obra muito barata”, explica.
Além disso, a baixa produtividade, associada à baixa instrução e qualificação dos trabalhadores, limitam a evolução salarial.
Mas o mercado de trabalho passou a dar sinais de recuperação a partir deste ano. A taxa de desemprego, medida pelo IBGE, vem caindo desde março, e em setembro chegou a 8,7%, menor taxa desde o trimestre encerrado em junho de 2015.
Já o rendimento médio real vem subindo e em setembro teve a 5ª alta seguida. No levantamento de Imaizumi, é possível observar que há uma tendência de alta entre quem ganha acima de dois salários mínimos e de recuo nas faixas de renda menores.
Para Imaizumi, a tendência é de melhora contínua nos dados do mercado de trabalho. “Porém de forma muito lenta, assim como o resto da economia”, ressalva.
Houve alta na proporção de trabalhadores que ganham de 0 a 1 salário mínimo em todos os 11 setores analisados no período entre o último trimestre de 2019 e o terceiro trimestre de 2022.
As maiores altas foram, respectivamente, em alojamento e alimentação e serviços domésticos, que estão entre os mais afetados pela pandemia.
No caso de alojamento e alimentação, houve alta de mais de 12 pontos percentuais entre o período pré-pandemia e setembro deste ano no grupo de quem ganha até um salário mínimo (de 38,4% para 50,9%).
“Foi o setor mais prejudicado pela pandemia e o último a se recuperar. Essa recuperação veio sobretudo via informalidade, algo já em elevado grau no setor”, diz Imaizumi.
Além de alojamento e alimentação, a maior proporção entre quem ganha até 1 salário mínimo estava nos setores de serviços domésticos e agricultura, pecuária e pesca.
Para Imaizumi, chama a atenção o aumento de quase 12 pontos percentuais na proporção de pessoas em serviços domésticos recebendo até um salário mínimo.
“A pandemia intensificou um movimento de informalização do trabalho, já que muitas pessoas que contratavam esses serviços passaram a ficar mais em casa, em trabalho híbrido e doméstico, revendo suas necessidades de ter serviços domésticos todos os dias. Assim, ainda não houve total recuperação de trabalhadores domésticos com carteira assinada”, afirma.
De acordo com o economista, na agricultura houve menos oscilação (de 57,35% para 60,52%) devido ao boom de commodities durante os três anos de pandemia. Porém, a proporção de pessoas recebendo até um salário mínimo no setor sempre foi alta, assim como em serviços domésticos.
“Basta lembrar que quase 70% dos alimentos no Brasil vêm da agricultura familiar, constituída de pequenos produtores rurais, povos e comunidades tradicionais, assentados da reforma agrária, silvicultores, aquicultores, extrativistas e pescadores”, diz.
Já entre quem ganha entre um e dois salários mínimos, houve alta em 3 setores: indústria, transporte, armazenagem e correio e administração pública, defesa e seguridade social. Já a maior queda foi em serviços domésticos.
Entre quem ganha acima de dois salários mínimos, houve queda em todos os setores, com destaque para transporte, armazenagem e correio e construção.
Fonte: G1