Dados recolhidos pela Receita Federal revelam uma preferência do investidor por bitcoin, ether e outras 8 criptomoedas
Se os brasileiros se caracterizam pelo conservadorismo na hora de investir, a máxima é válida também no que diz respeito ao mercado de criptomoedas. Dados de negociação de ativos digitais compilados pela Receita Federal no mês de maio mostram que bitcoin e ether, as duas maiores criptomoedas do mercado, lideram a preferência dos investidores brasileiros.
Outros criptoativos consolidados e antigos, cujos melhores dias parecem já ter ficado para trás, também fazem parte do top 10 nativo, incluindo Litecoin, XRP, Cardano e Dogecoin.
Os dados da Receita também revelam que o inverno cripto chegou forte no Brasil. Apesar da expansão do ecossistema local, com a entrada de diversos novos players nacionais e internacionais de peso, a quantidade de transações de criptomoedas caiu 66% em maio deste ano na comparação com o mesmo período no ano passado. Em maio deste ano foram pouco mais de 2 milhões de transações, enquanto em maio do ano passado elas ultrapassaram a marca de 6 milhões.
O Brasil ainda não aprovou a regulamentação das criptomoedas. Aprovado no Senado, o projeto de lei 4401/2021 aguarda aprovação na Câmara dos Deputados para então ser encaminhado à sanção presidencial e finalmente entrar em vigor.
Assim, as informações consolidadas sobre o mercado de criptomoedas oferecem apenas um vislumbre do comportamento dos investidores – e não um retrato fiel e acabado. Formalmente, os investidores devem se reportar à Receita Federal através de um relatório implementado por meio da instrução normativa 1.888, em 2019.
À Receita, devem ser informadas por pessoas físicas e jurídicas, que negociaram em plataformas estrangeiras, as transações mensais realizadas acima de R$ 30 mil. Já as plataformas nacionais, precisam informar todas as operações realizadas pelos clientes, independentemente do valor. Essa discrepância entre as normas é um dos pontos que deve mudar com a aprovação do marco regulatório das criptomoedas no país.
Mesmo assim, os dados da Receita Federal oferecem um panorama sobre o perfil do investidor brasileiro. O relatório mais recente contém dados de maio e aponta que os brasileiros realizaram transações envolvendo 56 criptomoedas diferentes. Ao todo, as mais de 2 milhões de operações foram reportadas por 374.609 pessoas físicas e jurídicas – 364.457 CPFs e 10.152 CNPJs.
1. Bitcoin (BTC)
A dominância do bitcoin no mercado brasileiro é superior à do mercado global, chegando a aproximadamente 50% – mais de um milhão das transações reportadas à Receita em maio. Atualmente, a dominância do bitcoin sob a capitalização total do mercado de criptomoedas fica em torno de 40%, de acordo com dados do CoinMarketCap. No mês passado, o bitcoin movimentou R$ 2,6 bilhões.
A outra metade das transações compreenderam 58 criptoativos diferentes, conforme a seguir.
2. Ether (ETH)
A segunda maior criptomoeda do mercado respondeu por 263.233 transações declaradas e movimentou RS$ 642,2 milhões. Na comparação com maio do ano passado, o número de transações envolvendo o ETH despencou 75,2%. No caso do Ethereum, a dominância do ativo no mercado brasileiro, de acordo com os dados da Receita Federal, é inferior à verificada nos mercados globais: aproximadamente 13%, contra 20%.
3. Tether (USDT)
A terceira colocada no top 10 Brasil ocupa o mesmo posto no ranking global de criptomoedas por capitalização de mercado. O Tether (USDT) é uma stablecoin pareada ao dólar, que oferece uma forma alternativa para dolarização do patrimônio para os brasileiros. O Tether respondeu por 76.339 operações e movimentou R$ 8,7 bilhões em maio deste ano – o maior valor nominal entre todos os criptoativos da lista.
4. XRP
O XRP é o token nativo da Ripple Labs, empresa que desenvolve uma ponte entre o ecossistema cripto e o sistema financeiro tradicional. Envolto em uma longa batalha com a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC), o XRP tem resistido no top 10 global desde 2013, sem muitos altos e baixos.
A batalha legal da Ripple Labs, emissora do XRP, com a SEC se arrasta desde dezembro de 2020, quando o órgão regulador entrou com uma ação alegando que os executivos da Ripple usaram o XRP para arrecadar fundos para a empresa desde 2013, alegando que os tokens eram títulos não registrados à época.
Em maio, os brasileiros reportaram à Receita 74.933 transações com Ripple, movimentando R$ 37,4 milhões. Independentemente da disputa judicial, o XRP vem gradualmente perdendo relevância no mercado por se tratar de um token com poucos casos de uso ou soluções inovadoras, de acordo com analistas da casa de research brasileira Mercurius Crypto.
A tendência é válida também no mercado brasileiro, pois o XRP registra uma queda de 90% do número de transações efetuadas em maio deste ano em comparação com o mesmo período no ano passado.
5. Cardano (ADA)
A Cardano possui uma das comunidades mais apaixonadas e fiéis do espaço cripto, e é isso, fundamentalmente, que explica sua popularidade entre os investidores tanto no Brasil quanto no exterior. Em termos de desenvolvimento tecnológico e expansão do ecossistema, a Cardano está muito atrás de outras redes dedicadas a contratos inteligentes com as quais ela disputa espaço no mercado. Etehereum e Solana (SOL), por exemplo, entre elas.
Mesmo assim, o ADA respondeu por 73.810 operações reportadas à Receita Federal, movimentando um total de R$ 44,1 milhões. A quantidade de transações caiu 57% em relação ao mesmo período do ano passado.
6. Litecoin (LTC)
Assim como o XRP, o Litecoin faz parte da primeira geração de competidores do Bitcoin. Trata-se de uma criptomoeda que foi lançada como a “prata digital”, contrapondo-se ao BTC enquanto “ouro digital”.
Ao longo do tempo, no entanto, foi perdendo relevância. Especialmente, durante o último ciclo de alta do mercado. Em janeiro de 2021, o LTC era a quarta maior criptomoeda em termos de capitalização de mercado. Atualmente, ocupa apenas a 21ª posição, e está claramente em tendência de baixa.
Os próprios números do Litecoin no mercado brasileiro dão conta disso. Com 51.320 transações registradas em maio deste ano, o LTC amargou um declínio de 86% em relação há um ano.
7. Dogecoin (DOGE)
A memecoin que tem em seu maior patrono, Elon Musk, o homem mais rico do mundo, tem tido dificuldades para manter sua posição no top 10 do ranking global de criptomoedas. No entanto, aqui no Brasil manteve lugar cativo em maio, apesar de ter registrado um declínio de 90% do volume de transações.
O Dogecoin movimentou R$ 25,2 milhões, em maio, em 46.351 operações realizadas por investidores brasileiros. Há um ano, o DOGE movimentara R$ 665 milhões, em mais de 480 mil operações reportadas à Receita.
Tamanha queda pode ser explicada porque maio do ano passado marcou o auge do DOGE. Impulsionada por uma série de tweets de Musk, o Dogecoin atingiu sua máxima histórica de US$ 0,73.
8. Solana (SOL)
O token nativo da principal concorrente da Ethereum registrou a maior alta no volume de transações realizadas no país em um ano. Provavelmente, impulsionado pelo seu crescimento meteórico ao longo do segundo semestre do ano passado.
Em maio de 2021, apenas 136 operações envolvendo o SOL foram reportadas à Receita Federal, somando R$ 2 milhões. Um ano depois, estes números saltaram respectivamente para 41.683 e R$ 239 milhões.
9. Chiliz (CHZ)
O Chiliz ganhou popularidade entre os brasileiros por estar vinculado à Socios.com e aos fan tokens de clubes de futebol, que no ano passado tomaram de assalto o mercado local. Praticamente, todos os principais clubes do país lançaram seus fan tokens oficiais através da Socios.com, cujas ofertas iniciais exigiam a utilização do CHZ como meio de pagamento.
Desde então, o ativo mantém-se entre os mais negociados pelos investidores brasileiros. Em maio deste ano, o CHZ registrou 36.993 transações reportadas à Receita Federal, uma queda de 90% em relação à maio do ano passado.
10. Brazilian Token Digital (BRZ)
O último colocado da lista é uma stablecoin atrelada ao real, emitida pela Transfero. Segundo dados da Receita, foram realizadas 32.174 operações com BRZ, somando quase R$ 500 milhões em volume negociado. No mesmo período do ano passado, foram 57.111 transações, que movimentaram cerca de R$ 760 milhões.
Segundo informações da Transfero, em maio, o BRZ chegou ao volume de mais de 1 bilhão de tokens em circulação, com reservas equivalentes a US$ 230 milhões, tornando-se a maior stablecoin em capitalização de mercado pareada a uma moeda nacional que não o dólar.
Fonte: Future of Money