O valor da Contabilidade para os negócios é fundamental. Haja vista que, se as empresas quiserem se manter ativas no mercado, elas devem peneirar continuamente grandes quantidades de dados para a tomada de decisões estratégicas, e só a Contabilidade é capaz de maximizar o tempo e o dinheiro investidos — impulsionando a eficiência dos negócios e os resultados positivos.
Se as Lojas Americanas tivessem pensado assim, não deixariam a situação chegar ao ponto que chegou, um efeito dominó de dívidas que soma a R$ 20 bilhões, os quais não foram registrados nos balanços, e tratados, portanto, como “inconsistências contábeis”.
O estrago da bola de neve se deu no dia 11 de janeiro, o que provocou um verdadeiro frenesi entre os investidores e os clientes, bem como as instituições financeiras e os agentes do mercado financeiro.
Para esclarecer melhor o assunto, a Revista Mensário do Contabilista ouviu o professor William Ferreira dos Santos e trouxe trechos de uma tese de doutorado do mentor Carlos Eduardo Francischetti, escrita em 2015, sobre a Contabilometria e os possíveis desvios contábeis, o que pode explicar em tese o caso das Lojas Americanas. A matéria está nas páginas 21, 22 e 23.
Em suma, o que aconteceu nas Lojas Americanas foi excesso de ‘criatividade contábil’, ou seja: as pessoas optaram por contabilizar operações de forma não convencional e até mesmo criminosa. Para se ter uma abstração do tamanho do problema, até agora ninguém explicou a origem do rombo e como o adiantamento com os fornecedores, no chamado ‘forfait” entrou no balanço de forma incongruente, ou se tais montantes deixaram de entrar.
Importante salientar que o ‘forfait” é o nome em Inglês do alicerce contábil onde está inserido o risco sacado que corresponde ao fato de que, quando um fornecedor precisa antecipar o recebimento do dinheiro, quem paga esse fornecedor é a instituição financeira. No caso das Lojas Americanas, na forma como ocorria, a operação era tratada, do ponto de vista contábil, como se fosse um empréstimo e, portanto, uma dívida bancária da empresa com o banco.
E agora muitos contadores estão se perguntando se o problema está no risco sacado. E a resposta é: “Absolutamente não”. Inclusive, essa modalidade é muito importante, principalmente se considerarmos o fato de que a obtenção de crédito costuma ser um grande entrave no Brasil. Muitas empresas, inclusive, utilizam o ‘forfait” para melhorar seu fluxo de caixa.
Então, onde é que está o problema do rombo de R$ 20 bi e sequencialmente o pedido de recuperação judicial? O problema está na falta de lisura das classificações contábeis.
O fato é que lidar com o dinheiro e a documentação de uma empresa exige cuidados especiais, trazendo sérios desafios para os profissionais da Contabilidade. Quanto maior for o negócio, maior será seu volume de informações. Então, não podemos tratá-lo como um conjunto de dados que fala somente sobre o passado da organização, mas sim como uma verdadeira “fonte de água potável” cuja função é dar transparência ao desempenho econômico e financeiro do negócio.
Esse episódio nos traz valiosas lições como profissionais da Contabilidade, e destaca a fundamental relevância de nossas funções no mundo corporativo. Contudo, devemos estar preparados para esses desafios, e corresponder à real eficácia que os empreendedores esperam de nós, contadores. Por isso, devemos nos manter atualizados, bem informados e antenados com tudo o que está acontecendo à nossa volta.
Devemos também refletir sobre a nossa conduta ética e às vezes corajosa perante os nossos clientes, para alertá-los sobre os perigos que determinadas operações podem representar para o negócio, inclusive com prejuízos irrecuperáveis, como é o caso em pauta, e desgaste de imagens de marcas que foram construídas ao longo de muitos anos, como a das Lojas Americanas.
Devemos aproveitar esse momento, em que a nossa profissão está em evidência na mídia, infelizmente com informações difusas e até mesmo comprometedoras, para nos afirmar perante os usuários dos nossos serviços, demonstrando o quanto somos essenciais aos negócios, e que nossas atividades profissionais devem ser respeitadas e valorizadas cada vez mais, porque sem Contabilidade o mundo corporativo corre sérios riscos.
Vamos fazer desse limão uma saborosa limonada para angariar ainda mais valor, confiança e respeitabilidade dos clientes e da sociedade.
Acesse a edição deste mês do Mensário do Contabilista.
Claudinei Tonon
Presidente
Gestão 2023-2025