Recentemente, o termo “smurfing” passou a ficar mais conhecido nas mídias por conta do caso ocorrido com a influenciadora e advogada Deolane Bezerra, que foi acusada de integrar uma organização criminosa envolvida com jogos ilegais e lavagem de dinheiro, conforme apontam as investigações da Polícia Civil de Pernambuco.
As investigações dizem que o grupo utilizava o método “smurfing” para movimentar os lucros das atividades ilícitas, técnica também já utilizada pelo PCC.
“O smurfing se caracteriza pela divisão de um montante significativo em múltiplos depósitos, transações ou transferências de valores pequenos, realizados por diferentes pessoas ou ‘smurfs’ (laranjas). Com isso, evita-se ultrapassar os limites de notificação obrigatória para transferências suspeitas, burlando a fiscalização e tornando o dinheiro ‘sujo’ mais difícil de ‘rastrear’, explica Cristiano Maschio, especialista em pagamentos e CEO da fintech Qesh, empresa especializada em soluções de segurança e prevenção de fraudes para transações financeiras.
Com o aumento das transações digitais e da globalização econômica, o mercado financeiro enfrenta desafios crescentes para combater práticas ilícitas, e uma das mais complexas é o “smurfing”, justamente porque envolve a fragmentação de grandes somas de dinheiro em pequenas transações para evitar a detecção de órgãos reguladores e dos sistemas de compliance, e, por isso, é tão utilizada para lavagem de dinheiro.
“Esse método é particularmente desafiador para as instituições financeiras, que precisam estar equipadas com sistemas avançados de monitoramento para identificar padrões incomuns, especialmente em contas que não costumam movimentar altos valores. Transações recorrentes e repetitivas, realizadas em curtos períodos e com valores próximos ao limite de detecção, são alguns dos sinais de alerta associados ao smurfing”, fala Cristiano.
E como combater o smurfing?
O smurfing é uma técnica engenhosa e difícil de detectar, mas com a combinação de tecnologia de ponta, educação, e regulamentação rigorosa, as instituições financeiras podem reduzir seu impacto. Por conta do aumento dos crimes cibernéticos e da complexidade das práticas de ocultação, as instituições financeiras e as fintechs estão intensificando a vigilância e as estratégias para bloquear transações ilícitas, protegendo a integridade do sistema financeiro e dos clientes.
Para o mercado financeiro e fintechs especializadas em segurança de dados, o combate ao smurfing requer a aplicação de ferramentas robustas de inteligência artificial e machine learning que consigam detectar transações suspeitas em tempo real. “Esses sistemas analisam grandes volumes de dados em busca de padrões irregulares e facilitam a identificação de movimentações que, à primeira vista, poderiam passar despercebidas”, complementa Cristiano.
Os órgãos reguladores, como o Banco Central e o COAF (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), desempenham um papel crucial no combate ao smurfing. “Em muitos países, as legislações estão cada vez mais rígidas, exigindo que instituições financeiras informem transações suspeitas rapidamente e promovam uma troca de dados eficiente entre países para rastrear e inibir esse tipo de prática”, conclui Cristiano.