Grupo que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul é visto como um contrapeso às instituições tradicionais lideradas pelo Ocidente. Mas o que é o Brics e qual sua relevância no cenário internacional?
A partir desta terça-feira (22/08), líderes de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul se reúnem em Joanesburgo para a cúpula anual do Brics.
A edição deste ano ganhou destaque em meio à expectativa de que o grupo de países emergentes possa agregar novos membros, enquanto China e Rússia buscam aumentar sua influência política diante do aumento das tensões com Estados Unidos e aliados.
Primeiro veio o acrônimo Bric, cunhado em 2001 pelo economista Jim O’Neill, do banco de investimentos americano Goldman Sachs, para agrupar quatro das maiores economias de crescimento mais rápido da época. O’Neill queria enfatizar como essas quatro nações – Brasil, Rússia, Índia e China – poderiam coletivamente se tornar uma força econômica global na década seguinte.
Os investidores entenderam o recado, assim como os formuladores de políticas dos países em questão. Deixando de lado suas diferenças políticas e sociais e movidas por um desejo comum de reestruturar os sistemas políticos, econômicos e financeiros globais liderados pelos Estados Unidos, as quatro nações se comprometeram com um ideal de “justiça, equilíbrio e representação”.
A primeira reunião anual do Bric foi realizada em 2009 em Yekaterinburg, na Rússia. Um ano depois, eles convidaram a África do Sul para ingressar no grupo político, e um ‘s’ foi adicionado ao final da sigla.
Os países-membros do Brics representam mais de 42% da população mundial, além de responderem por quase um quarto do produto interno bruto (PIB) global e 18% do comércio.
Para alguns, o agrupamento serve como um contrapeso aos fóruns econômicos e políticos ocidentais e a instituições como o G7. A expectativa é de que o Brics poderia usar sua influência política e econômica para promover reformas há muito necessárias em entidades como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI), a fim de fornecer uma representação mais realista de um mundo atualmente multipolar.
O grupo de países emergentes tem lutado para fazer jus ao seu potencial de oferecer uma alternativa aos sistemas financeiros e políticos tradicionais.
Entre suas conquistas mais notáveis está a criação do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) – ou Banco Brics –, que atualmente é presidido por Dilma Rousseff. O banco multilateral de desenvolvimento tem US$ 50 bilhões (cerca de R$ 250 bilhões) em capital subscrito para financiar infraestrutura e projetos relacionados ao clima em países em desenvolvimento.
Desde sua criação em 2015, a instituição financeira, que inclui tanto membros do Brics como também Bangladesh, Egito e Emirados Árabes Unidos entre seus acionistas, já aprovou mais de US$ 30 bilhões em empréstimos. Para fins de comparação, o Banco Mundial sozinho comprometeu mais de US$ 100 bilhões em 2022.
O Brics também criou um Acordo de Reserva de Contingência de US$ 100 bilhões, uma facilidade de liquidez em moeda estrangeira que os membros podem aproveitar durante eventuais fases de turbulência financeira global.
Há também rumores sobre a criação de uma moeda comum entre seus membros, o que seria uma tentativa de desafiar a hegemonia do dólar. Mas como isso não deve se concretizar tão cedo, o Brics decidiu focar no aprofundamento do uso de moedas locais.
“Fora a criação do Banco Brics [… ], é difícil dizer o que o grupo tem feito além de se reunir anualmente”, opinou Jim O’Neill em um artigo de 2021.
O sucesso limitado do grupo pode ser explicado pelos interesses muitas vezes divergentes e concorrentes de seus membros, especialmente China e Índia. Os dois países, que já compartilham uma fronteira disputada, viram seus laços se deteriorarem nos últimos anos.
O Brics viu sua influência econômica aumentar nas últimas duas décadas, em grande parte graças a anos de crescimento estrondoso na China, a segunda maior economia do mundo em termos de PIB, e à ascensão da Índia, que emergiu como a quinta maior economia global e é atualmente a potência econômica que mais cresce.
Já as economias da Rússia e do Brasil perderam o momentum e caíram para onde estavam em 2001 em termos de participação no PIB global. A economia sul-africana também tem lutado para engatar desde que ingressou no Brics.
Embora o grupo seja agora uma força importante no comércio internacional, as transações comerciais entre seus membros permaneceram relativamente baixas na ausência de qualquer acordo de livre-comércio para o Brics.
Na frente de investimentos, o bloco viu entradas anuais de investimento direto estrangeiro (IED) mais do que quadruplicarem de 2001 a 2021. Os investimentos internos, no entanto, permanecem moderados, representando uma parcela de menos de 5% do estoque total de entrada de IED em 2020.
A expansão do Brics está entre os principais tópicos da cúpula anual na África do Sul. Vinte e três países se inscreveram formalmente para se tornar membros permanentes do grupo, incluindo Arábia Saudita, Irã, Emirados Árabes Unidos, Argentina, Indonésia, Egito e Etiópia.
Entre os defensores de uma expansão está a China, que busca assim aumentar sua influência política em meio à crescente rivalidade com os EUA. Já para a Rússia, trata-se de buscar novos aliados num momento em que o país sofre sanções ocidentais por causa da guerra na Ucrânia. Brasil e Índia, por outro lado, há muito se opõem à rápida expansão do bloco, com Nova Délhi especialmente preocupada com a crescente influência chinesa no grupo.
Enquanto vem lutando para concretizar seu potencial econômico, o Brics se projeta como uma alternativa geopolítica a uma ordem mundial liderada pelos EUA, posicionando-se como representante do Sul Global. E tudo que os candidatos à adesão querem agora é capitalizar a influência econômica do Brics.
Fonte: Portal G1