Após vários dias de tensões e ameaças, no dia 24 de fevereiro de 2022, a Rússia decidiu atacar a Ucrânia. Nesta data, em pronunciamento oficial, o presidente russo Vladimir Putin, justificou a ação com as seguintes: “Não toleraremos ameaças e não aceitaremos nenhum tipo de intercessão estrangeira.”
Aqui no Brasil, além dos reflexos de “tempos difíceis”, a invasão russa já está afetando o bolso de pessoas físicas e empresas, a começar pelo aumento do combustível em todo o País, que alavancou ainda mais a inflação, a qual já vinha em alta por conta da pandemia. E a insegurança está longe de acabar, como estima o Fundo Monetário Internacional-FMI ao dizer que a invasão da Ucrânia pela Rússia afetará toda a economia global, desacelerando o crescimento a longo prazo.
Mesma impressão tem a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico-OCDE, que calcula o corte de um ponto percentual do progresso mundial, aditando 2,5 pontos ao aumento contínuo e generalizado dos preços. Portanto, a previsão é que a Contabilidade seja abalada em cheio nos próximos meses.
Combustíveis x Inflação
Além da inflação, por aqui o conflito reacende a urgência da votação de uma Proposta de Emenda à Constituição-PEC apelidada de “Kamikaze” pela equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes. Tudo porque, segundo ele, ela tem um potencial enorme de desestruturar pilastras tidas como “fundamentais” para a política fiscal do governo, afinal seu propósito é reduzir as alíquotas de tributos sobre os preços do diesel, biodiesel, gás e energia elétrica entre este e o próximo ano. Além disso, propõem a ampliação do vale-gás a famílias pobres para o preço cheio do botijão e um “auxílio-diesel” de até R$ 1,2 mil por mês aos caminhoneiros autônomos, para que não haja uma greve como a de 2018, às vésperas da eleição.
Agronegócio
Outro ponto que colabora para a inquietação dos profissionais contábeis é que a Rússia, grande compradora de commodities e carnes do Brasil, é também a nossa maior fornecedora de fertilizantes. Somente no ano passado, o Brasil importou US$ 5,7 bilhões em produtos russos e o país está na 6ª posição do ranking das importações brasileiras, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior.
Ciberataques
Como se não bastasse, fora dos limites físicos e palpáveis que ultrapassam as barreiras da guerra, todo cuidado é pouco, por parte das empresas e contadores, com os ataques virtuais, visto que a previsão é que os ransomwares (aplicativos maliciosos que sequestram dados eletrônicos das vítimas) continuem sendo a maior ameaça cibernética no mundo. A informação é de um relatório da Apura Cyber Intelligence, especializada em segurança e apuração de meios digitais.
“Os ransomwares são uma ameaça persistente e implacável e os operadores deste tipo de ataque visam tanto empresas de países ricos como de países pobres, desde grandes corporações multimilionárias até clínicas de saúde e hospitais. O objetivo é “sequestrar” informações vitais e exigir resgates financeiros para que as informações não sejam divulgadas, normalmente na dark web”, diz o relatório apontando algumas empresas e órgãos brasileiros que sofreram esse tipo de ameaça em 2021: Eletronuclear, Procuradoria Geral da Fazenda Nacional, Colonial Pipeline, CVC Turismo, Lojas Renner, Porto Seguro entre outras. A Companhia Paulista de Força e Luz-CPFL chegou a ter informações colocadas à venda por criminosos.
“Os criminosos estão tão atentos às vulnerabilidades das empresas que em poucas horas atores maliciosos conseguiram criar exploits para essas vulnerabilidades e começaram a atacá-las ativamente, em alguns casos apenas horas depois da divulgação das falhas”, ressalta o CEO da Apura, Sandro Süffert.
No parecer de Carlos Rodrigues, vice-presidente da Varonis para a América Latina, empresa pioneira em segurança e análise de dados, o sinal vermelho aos ataques cibernéticos deve ser acionado também porque a Rússia tem uma longa história de uso de investidas virtuais: “Em 2007, hackers russos desativaram a internet da Estônia e lançaram ataques contra o governo e instituições financeiras porque o país queria mover um memorial da Segunda Guerra Mundial. Em 2008, seu alvo foi a Geórgia, uma ex-república soviética. Em 2009, hackers derrubaram provedores de serviços da web no Quirguistão para pressionar o país a despejar uma base militar dos EUA. Em 2014, ataques cibernéticos derrubaram o sistema eleitoral da própria Rússia. Logo depois, quando o país tomou a Crimeia, também um ataque maciço derrubou a internet ucraniana”.
Entretanto, comenta o especialista, o ataque mais prejudicial em nível global foi com o uso do malware NotPetya, o que exige que os contadores fiquem ainda mais prevenidos: “O vírus, plantado em um sistema de Contabilidade popular na Ucrânia, era na realidade um worm [vírus] de auto propagação que se espalhou rapidamente por todo o mundo. A princípio, o NotPetya foi confundido com ransomware. Mas, ao invés de criptografar arquivos e fazer as pessoas pagarem resgate para recuperá-los, o NotPetya simplesmente os destruiu. O prejuízo estimado foide US$ 10 bilhões em todo o mundo.
Efeitos
Em se tratando de guerra, como diz o ditado “se correr o bicho pega; se ficar o bicho come”. Então, o Brasil, sem investimento em pesquisas agrícolas que elevem a eficiência dos sistemas produtivos, vai demorar muito para assumir uma postura de que lado ficar, isso porque está vulnerável a sofrer impactos em sua economia, em especial em sua locomotiva: o agronegócio.
Se o Brasil se colocar favorável à Rússia, pode agravar ainda mais a sua situação, podendo ser alvo de sanções ou boicotes privados internacionais.
Já no que diz respeito à prevenção de ataques cibernéticos, “o investimento em monitoramento de ameaças e segurança é fundamental em empresas de todos os portes e segmentos”, finaliza Sandro Süffert.
No que tange aos impactos para a Contabilidade, é importante que, segundo o Sindicato dos Contabilistas de São Paulo-Sindcont-SP, que os profissionais se mantenham atualizados e atentos, para orientar seus clientes sobre as direções corretas a tomar e ajudá-los a encontrar as melhores soluções na condução dos seus negócios. Afinal, uma Contabilidade bem estruturada é o que garante o desenvolvimento e a prosperidade de uma empresa, mesmo em tempos adversos. Neste sentido, a Educação Profissional Continuada assume ainda mais seu destacado papel “Ela é o recurso ideal para que os contadores possam se informar, adquirir conhecimentos e transmitir informações aos gestores a fim de que eles tomem as providências mais acertadas de maneira segura e inteligente”, afirma Geraldo Carlos Lima, presidente da Entidade.
Acesse outros conteúdos no Mensário do Contabilista deste mês. Veja em: www.sindcontsp.org.br